Muito além de identificação com valores, a sociedade aprendeu a cobrar as empresas por suas ações e quem não olhar para isso está fadado ao fracasso.
Com o passar dos anos, as pessoas passaram a cobrar mais posicionamentos das empresas em relação a pautas sociais e ambientais. 2019 foi uma prova disso e a crise do Coronavírus em 2020 promete intensificar o olhar do público para ações responsáveis por parte das empresas.
No ano passado cidades como Paris e Santiago mostraram a força da população nas ruas perante descontentamentos com as políticas e acordos entre governo e corporações.
Não estamos falando apenas de ativismo, mas sim de uma geração de pessoas mais informadas e questionadoras.
Esse foi um dos tópicos levantados pelo relatório da Control Risk 2020, estando entre os 5 principais riscos para as empresas atualmente. O ativismo pressiona o mundo corporativo e ser ético já não basta, como salienta o documento.
A internet e os meios de comunicação não permitem segredos entre governos. Acordos e políticas agressivas não conseguem ficar embaixo do tapete por muito tempo.
Desastres como os incêndios da Austrália e o desmatamento da floresta Amazônia não foram abafados e causaram diversos protestos ao redor do mundo, botando pressão nas autoridades.
Em paralelo aos movimentos ativistas da população, as próprias empresas passaram a apoiar causas sociais, e não apenas de maneira reativa.
A identificação do público com determinados valores, gera engajamento. O que é muito interessante do ponto de vista mercadológico, mas também como maneira de prestar contas à sociedade.
Essas ações contribuem para o desenvolvimento de pessoas e regiões, estimulando o crescimento econômico e criando uma relação de transparência com o público.
A necessidade de atender as demandas sociais
A pesquisa anual sobre credibilidade nas empresas – Edelman Trust Barometer – mostrou que a confiança do público em empresas que apoiam causas sociais aumenta a cada ano e a tendência é que, em 2020, este número cresça ainda mais.
Pautas antigas como o controle dos combustíveis fósseis ainda são as mais questionadas, segundo o levantamento. A emissão de carbono neutro é uma das grandes exigências dos cidadãos de todo o mundo.
O governador do banco da Inglaterra, Mark Carney, afirmou publicamente que empresas que não possuem políticas de emissão de carbono neutro, não têm futuro no mercado.
No início de 2018, o investimento em sustentabilidade alcançou US$ 30,7 trilhões no mundo todo. Os dados são da Aliança Global de Investimentos Sustentáveis que indicou um aumento de 34% em dois anos com este resultado.
Empresas devem saber interpretar os sinais da população
Direcionar esforços em uma pauta social também é uma forma de rastrear o sentimento do investidor e do próprio público.
Os protestos no Chile começaram com um aumento no valor da tarifa de metrô e acabou com mais de um milhão de pessoas nas ruas.
A hashtag #MeToo obteve proporções estratosféricas quando a atriz norte-americana Alyssa Milano tuitou: “Se todas as mulheres que já foram assediadas ou agredidas sexualmente escreverem ‘Eu também’ como status, então damos às pessoas uma noção da magnitude do problema”.
As principais questões defendidas pela comunidade ativista atualmente são:
- Emergência climática e questões ambientais
- Diversidade e inclusão
- Igualdade de gênero
- Escravidão moderna
Pautas que carregam obrigações éticas e legais em todos os continentes.
Mesmo que algum desses valores não faça parte da sua empresa, um cliente pode discordar e você pode perder oportunidades de negócio por conta disso.
Quando o ativismo confronta os negócios, escolher um lado a favor ou contra governos ou interesses de grupos poderosos torna-se um desafio.
Em fevereiro de 2018, um atirador matou 17 pessoas numa escola em Parkland, na Flórida.
Então, a loja de artigos esportivos Dick’s Sporting tomou a iniciativa e encerrou a venda de armas em quase um quinto de seus estabelecimentos. Mais de US$ 150 milhões em vendas foram perdidos com essa ação.
Entretanto, no ano seguinte, as ações da empresa subiram em 14% e depois de alguns meses obteve seus melhores ganhos em vendas dos últimos seis anos.
Comunidades ativistas dentro das empresas
O mundo dos negócios e o ativismo não são divididos por uma fronteira. Funcionários possuem seus próprios valores e estão de olho na postura das empresas.
Inclusive, muitos deles veem empresas engajadas em causas sociais como bons lugares para se trabalhar.
A geração Y e Z esperam mais do que um salário e um ambiente de trabalho agradável ao optar por uma vaga de emprego.
Foi o que mostrou a pesquisa Deloitte Millenial de 2019, onde 59% dos jovens disseram que deixariam uma empresa dentro de dois anos se não percebessem um impacto positivo do seu trabalho na sociedade e 63% dos entrevistados afirmaram que abandonariam o emprego caso a empresa não se preocupasse com questões como diversidade e inclusão.
A verdade é que cada vez mais as empresas terão que dar voz às suas próprias comunidades ativistas. Há uma categoria de eventos transacionais que nenhuma empresa pode mais ignorar.
Gerenciamento de Crise e o Ativismo
Programas sociais e ambientais precisam ser um radar de todos os relacionamentos da empresa com a sociedade, alinhado aos seus próprios valores e identidade.
Este mapeamento deve acompanhar as constantes transformações, em conjunto com o Gerenciamento de Crise, respondendo aos cenários mais instáveis.
Medidas que atendem somente as linhas legais não suprem as necessidades do negócio a longo prazo.
Gerenciamentos de crise bem-sucedidos têm uma visão 360 graus e são inseridos em forma de treinamento nas equipes antes que se tornem passivos.
O monitoramento de todo cenário político e econômico promove o engajamento e o entendimento de todos os aspectos do mercado e da sociedade, garantindo o sucesso da operação.