“Quanto maior a crise, maior a necessidade de resiliência e adaptação.”, assim Breno Araujo, Head of Security Intelligence and Investigations na Souza Cruz e Vice Chairman na ASIS International, analisa como o impacto da pandemia da Covid-19 evidenciou um movimento de maior valoração do tema da Cultura de Segurança.
Quando a pandemia começou no Brasil, diversas empresas abriram novas posições – muitas delas de liderança – relacionadas à Gestão de Crise e Continuidade de Negócios.
Se a busca por esse tipo de profissional durante a crise demonstrou o despreparo das empresas, também evidenciou um movimento de maior valorização do tema da Cultura de Segurança.
Um gestor de segurança hoje está na posição de gestor de riscos e crises. Essa mudança conceitual importante tem sido fortificada, sob a influência do movimento pós-pandemia, mas ainda há muito o que amadurecer em relação a visão de segurança das empresas.
Impacto positivo
Um projeto de segurança pode ter impacto positivo em diferentes áreas dentro de uma empresa – financeira, jurídica, reputação de marca, RH, Operações e TI. Ainda há oportunidade de desenvolvimento dessa visão holística, a ponto de ser compartilhada pelos líderes de projetos de segurança.
Um fator desafiador, porém, é o ambiente de segurança física do Brasil. São roubos, furtos, ameaças, invasões, riscos aos executivos e muitos outros incidentes que demandam grandes esforços e a atenção dos profissionais de segurança e empresas. Esse ambiente valoriza a experiência especializada em proteção física o que pode se tornar uma barreira para o desenvolvimento significativo em segurança da informação, proteção à marca, gestão de crise, cyber segurança, entre outros.
Entregará maior valor aquele profissional de segurança que demonstrar a importância da aplicação de uma gestão de riscos focada nas estratégias e objetivos do negócio além da proteção física, entender seus principais clientes internos, e de como a segurança pode alavancar os resultados da empresa.
Gerenciamento e adaptação da rotina à crise
Submetidas a um ambiente instável no país, as empresas foram atingidas gravemente pela COVID-19, pelo enorme número de contaminados e perdas, acrescido a decisões descentralizadas dos governos. As incertezas sobre o funcionamento das empresas cresceram, apresentando muitas vezes realidades diferentes para cada cidade do Estado. Quanto maior a crise, maior a necessidade de resiliência e adaptação.
Passado o primeiro momento de implementação dos planos de contingência e adaptação da rotina das empresas, como principais ações práticas nos processos de segurança para o futuro próximo, muitas empresas criaram uma agenda fixa para desenvolver o tema de Continuidade de Negócio em todas as suas principais áreas. Nesse contexto, inclui-se busca por softwares de gestão de crises, notificação em massa, inteligência e outros relacionados à segurança. Mais além, empresas revisaram contratos para incluir planos de mitigação de riscos e continuidade sob responsabilidade dos fornecedores, empresas avaliaram monodependência de fornecedores relevantes e revisaram sua infraestrutura crítica.
Uma área que ganhou força nessa crise foi a Comunicação Interna, por ser uma das grandes responsáveis na divulgação de protocolos que constantemente se alteravam, assegurando o entendimento dos colaboradores e o engajamento nas medidas preventivas. Para isso, empresas investiram em novas formas e tecnologias de comunicação com seu próprio público.
Conscientização sobre a Gestão de Crises
Na gestão de Continuidade de Negócio há de sempre ter em mente que as empresas globais passarão por crises todos os anos. A pandemia é apenas um tipo de crise.
Considerando apenas a América Latina, enfrenta-se protestos no Chile, instabilidade política na Venezuela, mudanças de poder no Peru e Argentina, greve dos caminhoneiros no Brasil, etc. Somam-se também com crises internas por questões tecnológicas e/ou operacionais, que por vezes colocam a reputação das empresas em risco.
O ambiente extremamente volátil e essa série de fatos relevantes que vivenciamos no Brasil trazem um momento importante para a conscientização sobre Gestão de Crises no país. Hoje o tema de Gestão de Crises é facilmente encontrado em fóruns e em conferências de Finanças, RH, Logística e áreas relacionadas, fato incomum em outros tempos. O tema tem sido explorado nos mercados e cabe às empresas desenvolverem esse tema internamente, e aos profissionais, estarem preparados para a demanda.
Expectativas
Capacitadora de negócios, com diferencial competitivo, a cultura de segurança tem espaço para crescer. No atual ambiente, extremamente competitivo e volátil, funções que reduzam os riscos e perdas de uma empresa tornam-se diferenciais. Nesse contexto, inclui-se não apenas sobreviver às crises, mas também atravessá-las da melhor maneira possível, garantindo a continuidade do negócio em um nível elevado.